Bem vindos a Infâmia.

Surgido da necessidade pessoal ou de uma compulsão não explicada, esse é um espaço reservado a todos que queiram dividir seus textos com o público (ou não). Apenas um local de expressão pseudo literária.

domingo, 1 de maio de 2011

Réquiem para Mel


Não foi uma questão de escolha. Foi uma profusão de coincidências que em tramas elaboradas que me levaram a você. Coincidências que me trazem uma melancolia sem proporções.

Foram seus olhos, seu sorriso espontâneo, sua alegria em viver e experimentar o máximo que me seduziu. Você já tinha me envolvido com toda a sua inspiração e quando me dei por conta não havia como escapar. Você não havia ficado surpresa quando me apaixonei por você. A malícia do canto esquerdo de seu sorriso acabavam comigo.

Você foi a melhor ouvinte que se podia ter. Eu nunca me sentia sozinho. Era como se todas as minhas brincadeiras de infância retornassem junto com a inocência de tempos perdidos. A alegria despreocupada de raios de sol que atravessava as folhas do grande carvalho que ficava ao fundo da casa de seus pais. Um retorno para um local sem medo e quente com seus braços em volta de meu corpo.

Escuto seu riso ainda carregado pelos ventos quentes de minha memória, provenientes de algum lugar do Pacífico. Acreditávamos que estar em seus braços era a única certeza de que e podia contar.

Amor e devoção juvenis que deveriam nos levar por todos os lados e nos unir em um paraíso terreno. Mas o paraíso não é para todos.

Você tinha asas e não poderia viver confinada a um amor que apenas podia oferecer a você ele mesmo. Alçou vôo. Conheceu outros lugares. Outras pessoas. Dividiu sua alegria e seus sorrisos com todos que haviam ficado a sua volta. Tornou-se grande naquilo que fazia de melhor. E mesmo assim aquilo não era o suficiente.

Conheceu outro alguém. Enquanto eu me perdia em memórias você prosseguiu. Viveu o máximo e foi feliz. E eu sou feliz por sua vida ter sido repleta de plenitudes. Mas as sombras do tempo nunca são justas.

Agora você se foi. E eu não sei mais o que fazer para continuar. Estou velho. E dentro de minha solidão não acho o sentido das coisas. Toco sua mão fria em seu ultimo sono. Ainda lembro-me de seus beijos úmidos e caricias apaixonadas de um verão qualquer. Sinto sua falta. Não das coisas que aconteceram, pois por elas eu sou grato.

Sinto falta das coisas que não aconteceram. Das conversas que deixamos de ter. Das brigas por motivos ridículos que poderíamos ter tido diversas vezes. Pelos filhos que não aconteceram. De tudo aquilo que estava contido em uma promessa silenciosa que fazíamos enquanto nos abraçávamos e nos amávamos na beleza de uma inocência ignota. Poderíamos ter tudo. Ser tudo e por medo nos calamos.

Prossigo. Sem ar. Sem esperança. Sem alegria. Desprovido de alma. Mas piores serão meus dias por prosseguir sem você. São as lágrimas silenciosas que escorrem pelos meus olhos cansados, minha face enrugada e com a barba para fazer que te faço essa ultima homenagem. Vou te amar para sempre.

Em silêncio.

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